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Moda e psicologia combinam?

O que esses dois campos pode nos ensinar em relação a autoaceitação, autocuidado e amor próprio


Já parou para pensar que a palavra moda é usada em milhares de textos, notícias, posts, conversas, publicidades e na comunicação no geral? Pois é, o tempo todo, lemos, ouvimos ou falamos essa palavra por aí. Mas para além do universo da roupa, tendências, estilistas e grandes desfiles, a moda é também uma forma de expressão do indivíduo em sociedade. É fato que a moda e seus códigos da indumentária são referências utilizadas para demonstrar a evolução desse campo como linguagem e não só como o simples ato de vestir-se.


Vamos considerar que em sociedade o corpo sempre foi um ponto de destaque, principalmente quando falamos do corpo da mulher. Se nos aprofundarmos então, o corpo e por consequência o que vestimos expressam o que estamos sentindo, para que dessa forma possamos nos relacionar e nos comunicar com o meio em que estamos inseridos.

A verdade é que é impossível separar a história da moda da história da humanidade, porque a indumentária é e sempre será influenciada pelos valores da sociedade em que está inserida, não à toa o título deste artigo faz uma pergunta: "Moda e psicologia combinam?", muitos dirão que não, e sabe porquê? Porque a moda está muito atrelada ao feminino, à mulher, e como vivemos em uma sociedade patriarcal, estruturada no machismo a moda, não facilmente, irá ser vista como um campo de estudo a ser levado à sério, pois na verdade a mulher e tudo que a ela compete é tido como fútil e superficial.


A moda carregada dos valores do capitalismo é ao mesmo tempo símbolo de opressão e liberdade – as roupas ao contrário do que se pensa não são esvaziadas de sentido e relevância, prendendo as mulheres a um ciclo de consumo e vaidade que as controla e aprisiona. Um exemplo, é que na pesquisa feita pela Associação Brasileira de Recursos Humanos, 48% das mulheres entrevistadas, ou seja quase metade delas se sentem julgadas pelo o que vestem no trabalho, é esperado de nós mulheres que nossos corpos sejam cobertos e masculinizados para que inspiremos respeito. Estamos em pleno século XXI e ainda vemos mulheres sendo oprimidas e o que é pior violentadas porque vestiam roupas que não são consideradas adequadas e dignas de respeito.

Podemos ainda nos perguntar: o que é tão perigoso no corpo feminino, que assusta homens no poder a ponto de precisar controlá-lo por completo? O que é tão perigoso em escolhas de moda? Qual é o perigo real de deixar uma mulher se apoderar de suas roupas, seu estilo e seus significados e fazer deles algo pessoal e único? Qual é o perigo de uma mulher livre? Deixamos esses questionamentos para sua reflexão.

Juntando a Moda e a Psicologia


Segundo a autora Carolyn Mair, que escreveu o livro "Psicologia da Moda",

e sob a perspectiva que abordaremos aqui moda é "construção cultural da identidade inserida", Mair ainda cita Tansey Hoskins, em “Stitched up: The Anti-Capilist Book of Fashion" (2014) para descrever como a moda oferece um processo social de negociação e navegação, o qual possui uma mística cultivada.

Neste texto queremos abordar a moda não somente como a roupa, mas tudo aquilo que as roupas podem representar, afinal elas são nossa segunda pele, aderindo ao nosso corpo se tornando parte de nossa identidade. Vamos considerar também os aspectos sensoriais que a moda abarca, como visão, tato e até mesmo o olfato.

Um outro olhar ainda que podemos conferir sobre moda é que o modo de vestir oferece um entendimento não somente da nossa expressão, como também das partes do nosso Eu de um modo mais geral e, indo além, da nossa própria personalidade e do senso que temos do nosso Eu.

O importante filósofo e psicólogo estadunidense, Willian James foi além para nos dizer que, "as roupas são capazes de ser sentidas como parte do próprio corpo do usuário, como extensões da carne em forma de tecido".

A partir disso podemos nos perguntar qual a relação que existe entre o olhar do outro e a maneira como nos submetemos à moda? Nós como indivíduos vivemos uma busca incessante de seguir o modelo estipulado pela moda pois acreditamos que assim vamos ser mais relevantes socialmente, com intuito da comunicação e do pertencimento.


Agora que adentramos um pouco mais sobre moda, podemos correlacionar a psicologia com a moda. A psicologia enquanto estudo dos fenômenos psicológicos e relações que estabelecemos com o outro e com o nosso meio, nos dá a possibilidade de compreender o sentido dos nossos comportamentos. De forma simplificada, ela nos permite entender porque fazemos as coisas do jeito que fazemos. Tendo isso em vista, a psicologia da moda busca utilizar a moda como um agente que promove o bem-estar e também nos lança para um entendimento mais abrangente sobre nossa própria imagem. Apesar de ser uma área de estudos ainda em construção, sua importância diante das demandas do mundo contemporâneo a coloca com extrema relevância, já que o campo volta seu olhar para questões cada vez mais emergentes em nossa sociedade, que passam pela aceitação do corpo, autoconhecimento, saúde e bem-estar.


Dawnn Karen, uma das pioneiras na aplicação do conceito de Fashion Psychology, estudiosa dos componentes culturais do vestir, traz como principal ponto de atenção a função cognitiva da moda, sendo importante compreender a relação entre traje e atitude, e não apenas como a moda nos faz parecer, mas como a moda nos faz sentir. Seguindo ainda o pensamento de Karen podemos pensar em como uma roupa, um acessório e até mesmo uma modificação corporal pode amplificar emoções positivas e até mesmo conforto emocional, tendo o poder de melhorar até mesmo nosso humor. A psicologia da moda, é um estudo complexo que aborda como a imagem, o estilo, as cores e o universo da beleza afetam o comportamento humano, ao mesmo tempo em que aborda as normas e sensibilidades culturais. Tendo isso em vista podemos nos perguntar quais são as implicações deste contexto para a formação da nossa autoimagem, e é inevitável perceber que isso interfere diretamente nessa construção.

Se prestarmos ainda mais atenção sobre como a sociedade tem se estruturado de uma forma ainda mais interligada, poderemos observar o quanto não é frutífero desconectar conceitos como moda e psicologia, isso porque o construcionismo social da moda junto da psicologia visa trabalhar a autoimagem e percepção do Eu, autoestima, bem-estar, representatividade, senso de pertencimento, auto expressão, sustentabilidade, entre outros temas que podem nos trazer uma visão muito mais integrada desses dois campos de atuação que atravessa de forma tão presente o cotidiano e porque não dizer afeta o psicológico de todas nós.


Referências bibliográficas

https://www.nytimes.com/2018/04/12/fashion/fashion-psychologist.html

PDF do artigo Understanding the Socialized Body: A Poststructuralist Analysis of Consumers' Self-Conceptions, Body Images, and Self-Care Practices para baixar: https://www.researchgate.net/publication/24098914_Understanding_the_Socialized_Body_A_Poststructuralist_Analysis_of_Consumers'_Self-Conceptions_Body_Images_and_Self-Care_Practices/link/0f31752f06a4c8ca4d000000/download




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