A psicologia da autoimagem está bastante focada no Eu, ou seja, em nós mesmas. Essa afirmação se torna bastante interessante na sociedade na qual vivemos, porque em um mundo onde quase tudo se resume em ver e ser visto – o comportamento da maioria das pessoas nas redes sociais demonstram essa afirmação – acabamos por idealizar um Eu que está muitas vezes bem distante do que somos.
Atualmente usando como parâmetro a sociedade ocidental, vivemos um momento histórico cultural que enfatiza inclusive a propagação de ideais relacionados à imagem.
O Eu idealizado pode influenciar suas decisões, sua personalidade e até mesmo sua qualidade de vida. A concepção da nossa imagem é resultado da interação entre as pessoas, numa união de diversos aspectos, biológicos, emocionais, de relações e do nosso contexto. Nossas interações são permeadas por informações que estão presentes no nosso contexto cultural indo muito além das barreiras dos grupos sociais e familiares refletindo até mesmo em nosso espaço individual.
Quando há um desequilíbrio na intensidade da demanda relacionada à nossa imagem, somos de certa maneira pressionadas em diversas circunstâncias a concretizar em nós mesmas uma imagem ideal do que está ao nosso redor.
A armadilha de um Eu idealizado
Estabelecendo um paralelo entre a liberdade e a natureza humana, podemos observar que a livre escolha vai nos auto determinando, por isso a importância de nos conscientizarmos sobre o que há por trás dessas escolhas.
As nossas escolhas estão geralmente pautadas em construções histórico-sociais que tornam muito particulares a idealização da nossa autoimagem – atualmente é praticamente impossível desconectar a nossa imagem da internet, por exemplo, porque essa imagem está de certa forma amalgamada à câmera.
Somos permeadas por toda essa estrutura, e ainda que isso não seja consciente, seguimos idealizando nosso Eu em torno da imagem da foto, do vídeo, etc. Neste ponto há uma incongruência, porque fazemos essa idealização muito em função do olhar do outro, para que as pessoas possam nos ver de forma singular, nesta ação estamos evidenciando mais o que imaginamos que o outro quer ver, do que o que nós queremos ou realmente somos.
Outro ponto importante é que essa idealização, está muito calcada em um mecanismo de defesa. De alguma forma, idealizar o nosso Eu, é se defender da angústia de ser um humano e encontrar uma forma de se mostrar diferente daquilo que realmente somos é uma maneira de nos defendermos do julgamento alheio. Por isso, quando projetamos esse ideal, imaginamos que estamos apresentando ao mundo a nossa melhor versão, e que estaremos livres dos julgamentos, ou que seremos no mínimo menos julgadas.
O impacto do cenário pandêmico na idealização do Eu
Com a pandemia e o isolamento essa idealização pode ter ganhado ainda mais espaço em nossas vidas, já que idealizamos uma autoimagem que foge do tédio, vivemos em busca de algo para mostrar, de relatar acontecimentos e transformar o cotidiano em um entretenimento.
Fato é que não existe uma fórmula para a não idealização do Eu, mas em compensação temos em mãos diversos mecanismos para nos fazer parecer interessantes aos olhos do outro. Nas redes sociais vivemos pensando na próxima postagem, afinal o Eu idealizado não pode parecer entediante, e dentro disso ainda temos que lidar com o nosso auto julgamento: se eu postar demais posso mostrar que não estou seguindo todos os cuidados, ou ainda respeitando todas as regras impostas pelo isolamento, já se eu postar com menos frequência, diminuindo minha exposição me torno menos interessante para o público.
O controle da nossa autoimagem
Jean-Paul Sartre em seus muitos estudos dedicados a assuntos que competem ao existencialismo do ser humano, nos disse que: nós nunca teremos o controle do que o outro vê, e principalmente de como esse outro nos enxerga, por isso que é tão interessante voltarmos o foco para a nossa autoimagem.
O preço de se desapegar dessa auto idealização pode parecer alto, afinal ela pode ir em desencontro com as imagens que as pessoas esperam de nós, mas em compensação podemos experimentar uma espécie de liberdade mais genuína que ao invés de nos amarrar nos fortalece.
Sobre a autora:
Eliza Guerra
Psicologia da Autoimagem
CRP 06/106705
Instagram: @psidaautoimagem
Contato: eliza@psicologiadaautoimagem.com.br
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